sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Buraco em minha alma



O que faço
Quando chego
A esse passo sem acaso
Vem qual surto, contagia
Pulso vivo, impregnado


Esse ser febril
Agitado e inflamado
Ruborizado como o ocaso
Que na sua aparente calma
Oculta incandescente astro

Vejo rostos quando passo
Esses vultos que passeiam
Distraídos pés e braços
Embebidos em seus laços

Não me vêem um entardecer
Com fulgor tão causticado
Aparência que lhes mostra
Qual frescor, resignado

Que equilíbrio se almeja
Cada ser compenetrado
Em sua busca incessante
Pelo estável desbotado?

Vejo rostos
Busco gostos
Descobrir-lhes alma nua
Quando na verdade busco
Atrelar minha'lma à sua


Lapso cortante
Efemeridade, fugaz
Essa dor tão lancinante
A carne aberta me trai
A fissura em minha alma
Por fissura ablação me traz


A lacuna em um ser
Por completo, mutilado
Não o é mais em essência
A matriz ora engendrado
Peça solta, consequência
De um mal anunciado
O desgaste que se via
Desdobrado num agravo


Passageiro mal, vislumbro
Penedo a aportar
Aerólito anônimo
Busca a terra rasgar
Identidade sufocante
É origem, é Norte, é Ar!

Buraco na minha alma!
Prisão eterna, sem fim
Por que causa, tanto insistes
Em querer fugir de mim
Se sou obra
Se sou coisa
Sou começo, meio e fim

Josué Santos



 

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Qualquer coisa

























Que me encha
Me distraia
Faças rir e esquecer


Que ajuste
Minha mente
Entorpeça o meu ser


Te aguardo
Me aguardas
Bem na curva
Te querer
Desejar desesperado
Uma fuga do sofrer


Me abraça
Me envolva
Me desloque
Já daqui
Que o ser já não o seja
Devaneio e porvir


Nessa fuga
Nesse rastro
Dissolvendo
Me arrasto


No etéreo
Num vislumbre
Nessa cauda
Nesse véu
Em delícias
Eu vagueio
Vou em plumas
Falta o chão


Que arraso
O outro mundo
Dele fujo
Ó solidão!


Que me venha
Qualquer coisa
Que me leve
Já daqui


Doces fugas
Que abrandam
A tormenta
Que já vi


Como pode
O cosmonauta
Como a luz
Fugir de si?


Cada passo
Cada traço
Que se tenta
De per si


Só me leva
Só me faz
Em uma volta
Até aqui


Ó Eterno
Ser sublime
O ideal
Que nunca vi
Ó me salves
Lhe prometo
Do que ser
Abrir-me a ti


A prisão
Que se derrama
Não contém
Do que me fiz


Me revela
Limitado
Mas eterno
Sem ter fim


Sou essência
De tua alma
O teu ser ligado a mim
O que faço?
Pra que lado
Se não fujo
Devo ir?


Te espero
Te aguardo
Completude
Sem aqui


Te reveles!
Eu me abro!
Só não quero
Insistir


Nessa busca
Que desgasta
Que corrói
Até ter fim! 


JGSantos