quinta-feira, 21 de julho de 2011

Genesis 6: Os filhos de Deus - Comentários








Existem duas linhas epistemológicas defendidas quando se trata da interpretação do capitulo 6 do livro de Genesis e que estão longe de serem resolvidas em quaisquer escolas teológicas.

Há contudo, alguns esclarecimentos a serem feitos:

O original hebraico para "filhos de Deus" é "benai elohim" e só aparece no Tanack (ou Tanakh - conjunto de livros sagrados judaicos, dos quais se origina o AT cristão) em três passagens, quais sejam, as que relacionamos em Gn 6:1 da bíblia sagrada - sobre os "filhos de Deus" e as "filhas dos homens"; e as referentes ao livro de Jó, no Velho Testamento nas referências de Jó 1:6; 2:1 e 38:7.

Observamos que "benai elohim" nos outros textos se refere claramente aos anjos e em uma interpretação para nossa língua, é entendido por "criados por Deus", numa referência a serem feitos diretamente por Deus e não oriundos de um homem, como os descendentes de Adão, ou "as filhas dos homens" do nosso texto em questão.

Outro ponto que devemos ter cuidado: em lugar algum da Torah (conjunto dos 5 primeiros livros da Tanach) ou do Pentateuco, versão da Torah na bíblia sagrada existe a afirmação ou citação, sequer alusão, de que os "benai elohim" são uma referência à genealogia de Sete. O que há sim, é uma linha de interpretação (um tanto forçosa) para adaptar o termo a essa forma de compreensão; contudo, não cita nada dos originais, nem há aí sequer a transliteração do termo. Como citei, apenas pura interpretação (e interpretação, diga-se de passagem, podem haver várias). Aliás, a forma de leitura do texto sagrado defendida por Josefo, conceituado historiador das fontes e da história judaica, é a de que se refere a anjos, não a homens.

Acho interessante contextualizarmos aqui a questão histórica quando da interpretação de tão polêmica passagem do Gênesis já nos tempos da Igreja, tempos esses que influenciaram o texto até os dias de hoje. Vamos a ela:

Cerca de +/- 400 A.D. houve uma crescente no seio da igreja cristã no tocante ao interesse por anjos e seu valor sagrado, chegando alguns ao extremo da defesa herética de cultos e adoração a tais seres, incluindo visões e aparições.

Uma das atitudes das autoridades da igreja de então e que nos interessa na presente análise, foi à proibição da consulta do Livro de Enoch, uma das fontes que cita de forma mais aberta o tão atualmente polêmico texto de Gn 6. Essa foi uma das decisões, dentre outras que não cito aqui, dos bispos da igreja para abolir a prática nefasta de adoração aos anjos que grassava o seio da igreja do séc. IV A.D.

Com relação ao livro de Enoch, o mesmo foi citado pelos apóstolos Pedro e Judas, mais precisamente em: I Pd.3:18-20; II Pd.2:4 e Judas 6. Passagens essas que corroboram o entendimento que antes do séc. IV, o livro de Enoch, logo depois considerado apócrifo nos Concílios Ecumênicos, era citado normalmente pelos cristãos primitivos.

A partir desse período, a forma de interpretar o capítulo 6 do Genesis aceita pelos líderes eclesiásticos foi a de que os "benai elohim" se referiam a genealogia de sete, forma não condizente com o mesmo termo em outros textos da bíblia já aqui citados.

Como opinião particular, não abomino a linha epistêmica da linhagem de sete, contudo não vejo sustentação exegética suficientemente forte para aceitá-la.

Agora, só a título de polêmica e aceitando sugestões, fico a refletir:

Não foram os "gigantes" de Genesis 6 "valentes", "varões de fama", que dominaram até construíram cidades? A impressão que me passa é que eram homens anormais, ou super-homens; nefilins, em algumas interpretações. Como pode, de uma relação entre um homem que segue a Deus e uma mulher que se afastou dos seus caminhos, surgirem tais aberrações, ou super-seres? Assim como, em nenhum outro lugar da bíblia sagrada (isso na visão dos que defendem os filhos de Deus como sendo a linhagem de sete) cita que anjos podem ter relações com mulheres, ou seres espirituais se "misturarem" com humanos, também em nenhum outro texto do cânon sagrado se tem notícia de que a relação sexual entre homens santos, ou fieis a Yaweh e mulheres pecadoras, dará como resultado aberrações genéticas.

Sobre tal tema, se é possível ou não seres espirituais terem algum tipo de contato com humanos, provocando alguma alteração na sua estrutura fisiológica (como os gigantes de Gn. 6) tem um interessante e não menos profícuo texto em Daniel 2:43, quando trata da origem do poder que estará por trás do último governo humano (grifo nosso):     


“Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.”      


A intrigante expressão “misturar-se-ão com semente humana”, nos diz algo que se relaciona com a origem ou o “sêmen” (da mesma raiz de semente) humano, ou o seu código genético.

A propósito, o Apóstolo São Paulo cita em I Cor. 11:10:

“Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos.
Por causa dos anjos?

Outra questão: Em Gn. 5: 29 e Gn. 6:5 fala-se de um "mal" que assolou toda a terra, ao ponto de Deus desistir ou "se arrepender" de ter criado a raça humana. Existe entre alguns o pensamento ingênuo de que se refere apenas ao grau de pecaminosidade da humanidade nos dias anteriores ao grande dilúvio, sem 'algo' a mais que tenha provocado em Yaweh tal arrependimento santo. Sejamos inteligentes. Em qual era da história humana chegamos a um patamar de pecado tão gritante que não tenha sido nos dias atuais? Contudo, vejo na escatologia bíblica que a humanidade não será "de todo" destruída.

Existe uma linha de raciocínio (e isso é apenas "imaginação teológica", parafraseando Rubens Amorese) que diz ter acontecido um mal tão grave nesses dias de Gênesis 6, uma possível alteração do código genético humano, que a solução seria o extermínio da raça humana. Claro que isso soa hollywoodiano, mas tem uma certa lógica, ao entendermos que apenas a justa linhagem de sete, na pessoa de Noé e seus descendentes, foram os únicos que ficaram a salvo desta "contaminação". Se foi apenas o nível de permissividade e perversidade os responsáveis pelo dilúvio, provocando um quase-fim da raça humana, o que salvaria os homens nessa geração perversa, com pecados os quais nem precisarei citar?!

A essa "visão" do Gênesis 6 e outras tantas, eu recomendo serem analisadas com cautela e bastante exercício mental, sem desprezar nenhuma e tirando conclusões sábias. Fazendo o que diz o escrito de Eclesiastes 7:27, "conferindo uma coisa com a outra, para achar a razão delas".

Pra finalizar, há ainda outro ponto polêmico no qual a linha dos descendentes de Sete é vaga. Aliás, muito vaga. É o termo " e também depois" de Gn. 6:4. A interpretação mais clara de que já tive notícia, alude a uma possível segunda tentativa de violação do próprio código de conduta angelical, citado em Judas 6, “... não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação..." o que provocou novamente o aparecimento dos "gigantes" na terra nos dias da conquista da terra prometida por Moisha e Joshua, sendo esses gigantes destruidos pelo povo de Deus progressivamente, até o período de Davi, com o gigante Golias.



Raça de gigantes*

"Refaim" pode descrever uma antiga "raça" de gigantes na Idade do ferro em Israel, ou os lugares onde esses indivíduos possam ter vivido: ver Gênesis 14:5, 15:20, Deuteronômio 2:10-1, 20, 3:11, 13, Josué 12:4, 13:12, 15:8, 17:15, 18:16, 2 Samuel 5:11, 22, 23:13, 1 Crônicas 11:15, 14:9, 20:4. Na narrativa bíblica, os israelitas são instruídos a exterminarem os habitantes anteriores da "terra prometida", isto é, "Canaã", o que incluía vários povos citados e alguns indivíduos excepcionalmente grandes/altos. Veja as passagens listadas acima no livro de Josué e também em Deuteronômio 3:11, o que implica que Ogue, rei de Basã, foi um dos últimos sobreviventes dos Refains e que sua cama possuía nove côvados de comprimento, em côvados ordinários (um côvado ordinário é o comprimento do antebraço de um homem de acordo com a Nova Bíblia Americana Padrão, ou aproximadamente 18 polegadas, que difere de um côvado real. Isto faz com que a cama possuísse cerca de 4m de comprimento.). C.f. com a referência a Nefilim e os "filhos de Deus" em Genêsis 6:1-3. Enaque foi um refaíta (Deuteronômio 2:11).

Outras referências são extraídas da Versão ARC - Fiel:

Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos. Números 13:33
(Também essa foi considerada terra de gigantes; antes nela habitavam gigantes, e os amonitas os chamavam zamzumins; Deuteronômio 2:20
E os filisteus vieram, e se estenderam pelo vale de Refaim. 2 Samuel 5:18
E os filisteus tornaram a subir, e se estenderam pelo vale de Refaim. 2 Samuel 5:22
Um povo grande e alto, filhos de gigantes, que tu conheces, e de que já ouviste. Quem resistiria diante dos filhos dos gigantes? Deuteronômio 9:2
(Os emins dantes habitaram nela; um povo grande e numeroso, e alto como os gigantes. Deuteronômio 2:10
Também estes foram considerados gigantes como os anaquins; e os moabitas os chamavam emins. Deuteronômio 2:11
E deram Hebrom a Calebe, como Moisés o dissera; e dali expulsou os três filhos de Anaque. Juízes 1:20
Como também o termo de Ogue, rei de Basã que era do restante dos gigantes e que habitava em Astarote e em Edrei; Josué 12:4
Exponho aqui minha opinão, aceitando críticas e sugestões que venham enriquecer o nosso conhecimento e interpretação das sagradas escrituras.
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*Extraído de: http://pt.wikipedia.org

11 comentários:

  1. Meu querido irmão, é assim mesmo que é e assim mesmo que creio. Uma situação extremamente geave e delicada houve ali,a ponto de Deus se arrepender de haver criado o homem. Creio que houve não somente uma deformidade genética nos homens como também nos animais. O texto bíblico é claro, o problema é que muitas vezes a nossa militância cristã politicamente "correta" não nos permite conhecer a profundidade das escrituras. Maravilhoso texto irmão. Parabéns!

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    1. Grato, Fco Sales! Tem também um site com assuntos interessantes e polêmicos: reinomaranata.blogspot.com
      Fica com Deus! ;)

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  2. olá ,gostei muito do texto ,e gostaria muito de ter um estudo como faço ,meu caro irmão.espero retorno.muito obrigada meu querido irmão.

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    1. Olá minha cara. Tem um site muito bom: reinomaranata.blogspot.com
      Grato.

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  3. Olá. Com certeza os ensinamentos bíblicos nas igrejas, devem ultrapassar as barreiras de um ensinamento superficial!
    Muito bom o texto! O mistério envolvente em Gênesis 6 intriga. O entendimento é esse mesmo, mas vamos instigar um pouco. Eu acho pouco provável que os gigantes pós-diluviano tenha sido outros B'nai Elohim que desceram novamente. Pois o homem depois do pecado veio decaindo e era um ser altamente dotado de habilidades e estatura considerável. O ambiente terrestre era outro. Mas pouco sabemos. E vc já ouviu falar dá teoria do Adãozão?
    Quem quiser saber mais sobre o assunto, leia o livro de Enoque e o livro dos Jubileus, ambos foram considerados apócrifos. Uma pena!!

    Abraços!!

    Deus abençoe.

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  4. Olá. Com certeza os ensinamentos bíblicos das igrejas devem romperem com as barreiras de um ensinamento superficial. Gênesis 6 é muito intrigante e poucos arriscam levar a sério essa passagem misteriosa.
    Vamos lá. Eu acho pouco poco provável que os B'nai Elohim tenha feito uma segunda vez seus postos de sentinelas é feito isso novamente pós-diluvio. O homem foi criado evoluído em habilidade é estatura, e vem decaindo.O dilúvio sepultou isso e além de Sete, Cão e Jafé deram continuidade na missão de encher a terra. Creio que esses gigantes vinheram daí. Mas é um assunto a se estudar com profundidade. Já ouviu falar da teoria do Adãozão?

    Abraços.

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  5. Olá irmão Josué, sugiro a leitura do livro Rastros do oculto, de Daniel Mastral. Com certeza irá lhe enriquecer muito sobre esse assunto. A paz do Senhor.

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  6. Isso ae meu irmão... Foi perfeito

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  7. Os Benai Heloim geraram com as filhas dos homens os Nephilins ou Raphaelins, mais conhecidos como os gigantes.
    O apócrifo "O Livro de Enoque" descreve perfeitamente.

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  8. Olá irmão. A minha linha de raciocínio é igual a sua, e com isso fico muito feliz, só gostaria que vc citasse o comentário de Flávio Josefo a respeito disso, a página e o livro, se possível. Obrigado!

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