sábado, 19 de dezembro de 2009

Espelho do mundo - Sinestesia
























Eu penso o mundo
Sinto seu ritmo, vejo-o e leio
Interpreto os seus sulcos
E navego em seus veios

Aqui de dentro vejo lá fora
Aí dentro te vejo de fora
Vejo fundo, introspecto
Vejo meu eu no espelho agora


Vejo-me, mas não me livro
Nesse livro agora aberto
Interajo e analiso
Mas não me liberto


Quero dessecar-te
Usar o tempo, compreender-te
Afastar-me para entender-te

Criar mundos, miscelânea
Orgia de gostos, cores, odores
Sopa de pensamentos
Caldeirão de momentos   

Vejo vozes, bebo luzes   
Ouço cores, provo tudo   
Sinto amores, percebo a fundo 
Esse espelho que reflete o mundo

Sensações tão embaralhadas 
Tão vivas destacadas   
Lidar com cada uma e com todas   
E a palito separá-las

Pescá-las a anzol   
Escolher qual vou usar   
E com uma pitada de grito   
Tentar provar

Esse colosso de sabores 
Essa vertigem de gostos 
Mal provo parte de um   
E nele já identifico outros

O amargo na boca   
E o doce volta às papilas   
O insosso e o adstringente   
Trava e estala nos dentes

Degustar o mundo   
Petiscar a esperança   
Gostos tão fortes   
Como sangue na garganta

Olores suaves   
Pétalas macias   
Lembranças inaladas   
Como uma lufada de ar que arrepia

Oxigênio que inspira e contrasta 
Com o gosto do veneno que arrasta   
O ocre que entorpece, o verde que realça   
Amarelopálido, rosa - bebê que desgasta

Sensações, realidade de percepções, tormentos   
Construto de emoções, momentos   
Dejávu de alucinações  Sentimentos

Deliciosa vertigem   
E o corpo a flutuar no espaço  
Quiçá fora mais que um corpo   
Por membros, pernas, pés e braços   
As asas, plumas, um vôo eu alço

Mais que sonhos, os pensamentos 
Fossem soltos e a matéria   
A viajar por vários planos 
Se desfizesse como coisa etérea

Josué Santos

Eu sou assim



Quem dera que a vida fosse só prazer
Fosse só querer
Porque sou assim
Mas não é assim

Deus quis
Que pudéssemos compreender
O que é a dor
Que pudéssemos entender
O que é o não-querer

Sou parede de tijolos móveis
Me refaço, me modelo
Toda vez que alguém
Encosta em mim
Toda vez que alguém
Descansa em mim

Deus quis
Que pudéssemos compreender
O que é a dor
O que é o não-querer 
Que pudéssemos compreender
De que é feita a dor
O que é o amor

Sou parede de tijolos móveis
Me refaço, me modelo
Toda vez que alguém
Descansa em mim 
Toda vez que alguém
Encosta em mim
Pra descansar 

Quem dera que a vida fosse assim
Fosse só prazer
Só querer
Mas Deus quis assim...

Que pudéssemos compreender
O que é a dor
De que é feito o amor
Mas eu sou assim

Deus quis
Eu sou assim
Deus quis assim 

Sou parede de tijolos móveis
Me refaço, me modelo
Toda vez que alguém
Descansa em mim
Encosta em mim
Tropeça em mim
Pra descansar

Deus...quis assim
Eu sou assim
Descanse em mim
Encoste em mim
Tropece em mim
Descanse em mim

Por Josué Santos

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

E se eu sair...?



E se eu sair?
Como ficará o estar aqui?
Porventura não seria
Como tudo sempre quis?
Nada muda, continua
Não entendo o que se diz

O que vejo não agrada
Se agrada já não sei
O que sei de nada importa
Se o que vejo perderei

Até pego e distancio
Mas não chego, nada vi
Todos, tudo qualquer nada
Mas se sinto, repeti

Pra que ver ou que pergunta?
Cadê a indagação
E se  nego, se afirmo
Cada sim reflete um não

Tem resposta não completa
Quero a definição
Se perguntas, te pergunto:
Por que sim, e por que não?

Nada sei mas tudo inquiro
Não me dá satisfação
Esse eterno questionário
Mas que indefinição

Eu te quero minha resposta
Quê de investigação
Satisfeita, temporária
É apenas uma questão

Te caçando ó essência
Singular interrogação
Só revela que existes!
Sei que não estás à mão

Se és coisa, se não és
Se deparo frente a frente
Ou pneuma tu serias
Só estás na minha mente?

Mas então, o que apalpo?
Não basta objetivar?
Ou seria teu conceito
Que eu poderia pegar?
E te transformar em coisa
Apertar, me espetar

Não tem jeito te pergunto
Seria isso uma procissão?
Não começa pois não vejo
E seu fim? Não vejo não

Eu só sei que eu indago
Faço observação
Cogito, ergo sum!
Mas, que raios, dedução!

Vem, me diga, per favore!
Te questiono, calo não!
Essa linha em espiral
Essa averiguação
Faz parte de minha essência
Calarei na solidão.

Por: Josué Santos

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Penso - Espelho do Mundo I



Eu penso o mundo
Sinto seu ritmo, vejo-o e leio
Interpreto os seus sulcos
E navego em seus veios

Aqui de dentro vejo lá fora
Aí dentro te vejo de fora
Vejo fundo, introspecto
Vejo meu eu no espelho agora


Vejo-me, mas não me livro
Nesse livro agora aberto
Interajo e analiso
Mas não me liberto


Quero dessecar-te
Usar o tempo, compreender-te
Afastar-me para entender-te

Continua...

Por: Josué Santos

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Doenças mentais




    Vivemos em uma época em que as atividades humanas atingiram um nível de maturação tal, criando um sistema onde se exige do cérebro uma demanda por tarefas e empreendimentos nunca antes registrada.
    Em uma era de constantes transformações, a celeridade dos meios e a velocidade e quantidade de acessos à informação, tem exigido do homem hodierno uma busca constante por atualizações e um perfeccionismo tal, gerando angústias da alma e revelando patologias da psique, confirmando a necessidade de afirmação da máxima “mens sana, in corpore sano”.
    A comunidade médica atual vislumbra uma necessidade de aprimoramento das técnicas pertinentes ao tratamento das doenças psicossomáticas, as quais são desdobramentos de um mal-estar interno, o que leva esses profissionais a um foco em direção da análise da alma humana e seus desequilíbrios.
    A forma como conduzimos a nossa vida atualmente influenciará de modo direto o estado de equilíbrio psicológico, originalmente concebido para estar em harmonia com o meio externo, influenciando-o e sendo influenciado por ele. Contudo, não é o que vem ocorrendo. Em um mundo que é resultado da última revolução da informação, somada a uma necessidade tecnológica criada, a qual separa as relações e isola os indivíduos, o que se tem é um mal arraigado de tal forma, que revela uma consonância de males nas diversas sociedades componentes da chamada cultura ocidental, todos relativos a um desequilíbrio do estado psicológico do indivíduo.

    Em uma análise não muito acurada, contudo bastante esclarecedora, poderemos introduzir o assunto dessas “doenças da alma”, permitindo-nos um olhar o mais profissional possível quando em contato com os vitimados por esses males.

"Texto introdutório para pesquisa sobre doenças mentais."

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Buraco em minha alma



O que faço
Quando chego
A esse passo sem acaso
Vem qual surto, contagia
Pulso vivo, impregnado


Esse ser febril
Agitado e inflamado
Ruborizado como o ocaso
Que na sua aparente calma
Oculta incandescente astro

Vejo rostos quando passo
Esses vultos que passeiam
Distraídos pés e braços
Embebidos em seus laços

Não me vêem um entardecer
Com fulgor tão causticado
Aparência que lhes mostra
Qual frescor, resignado

Que equilíbrio se almeja
Cada ser compenetrado
Em sua busca incessante
Pelo estável desbotado?

Vejo rostos
Busco gostos
Descobrir-lhes alma nua
Quando na verdade busco
Atrelar minha'lma à sua


Lapso cortante
Efemeridade, fugaz
Essa dor tão lancinante
A carne aberta me trai
A fissura em minha alma
Por fissura ablação me traz


A lacuna em um ser
Por completo, mutilado
Não o é mais em essência
A matriz ora engendrado
Peça solta, consequência
De um mal anunciado
O desgaste que se via
Desdobrado num agravo


Passageiro mal, vislumbro
Penedo a aportar
Aerólito anônimo
Busca a terra rasgar
Identidade sufocante
É origem, é Norte, é Ar!

Buraco na minha alma!
Prisão eterna, sem fim
Por que causa, tanto insistes
Em querer fugir de mim
Se sou obra
Se sou coisa
Sou começo, meio e fim

Josué Santos



 

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Qualquer coisa

























Que me encha
Me distraia
Faças rir e esquecer


Que ajuste
Minha mente
Entorpeça o meu ser


Te aguardo
Me aguardas
Bem na curva
Te querer
Desejar desesperado
Uma fuga do sofrer


Me abraça
Me envolva
Me desloque
Já daqui
Que o ser já não o seja
Devaneio e porvir


Nessa fuga
Nesse rastro
Dissolvendo
Me arrasto


No etéreo
Num vislumbre
Nessa cauda
Nesse véu
Em delícias
Eu vagueio
Vou em plumas
Falta o chão


Que arraso
O outro mundo
Dele fujo
Ó solidão!


Que me venha
Qualquer coisa
Que me leve
Já daqui


Doces fugas
Que abrandam
A tormenta
Que já vi


Como pode
O cosmonauta
Como a luz
Fugir de si?


Cada passo
Cada traço
Que se tenta
De per si


Só me leva
Só me faz
Em uma volta
Até aqui


Ó Eterno
Ser sublime
O ideal
Que nunca vi
Ó me salves
Lhe prometo
Do que ser
Abrir-me a ti


A prisão
Que se derrama
Não contém
Do que me fiz


Me revela
Limitado
Mas eterno
Sem ter fim


Sou essência
De tua alma
O teu ser ligado a mim
O que faço?
Pra que lado
Se não fujo
Devo ir?


Te espero
Te aguardo
Completude
Sem aqui


Te reveles!
Eu me abro!
Só não quero
Insistir


Nessa busca
Que desgasta
Que corrói
Até ter fim! 


JGSantos

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O sonho perfeito











 








Novamente uma manhã
Um sol, um vento, sombras de árvores
Um frescor de manhã!

Balançam as folhagens
E você passa por mim!
Esvoaçante, solta
Tiracolo, caminhar previsível que atrai

Perfil, jeito, trejeito
Comum como esta manhã
Perfeito, gostoso como a manhã que passa

E você passa!
Leva junto tudo que passa
Momento que passa
Mas fica

Fotografado
Um conjunto:
Manhã, você, folhagens, o vento
Sol da manhã
Registro

Estado perfeito
Imutável
Sem antagonismos, sem opostos

***

JGSantos

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Essa realidade surreal...



















Vaidade de vaidade, já dizia o pregador.
Tudo é vaidade. Se há quase 3000 anos atrás o lendário escritor dos Provérbios e Eclesiastes, após inquirir tudo, experimentar e esquadrinhar toda a realidade que o cercava chegou à conclusão do que ele chamou de vaidades, o que diremos nós hoje, conscientes que somos da nossa navegação rumo ao infinito, presos a um astro mergulhado numa imensdão? Sim, tudo é vaidade, Salomão tinha razão. E não só isso, mas também aflição de espírito.
O simples fato de trazermos tais palavras numa longa viagem pelos séculos até o nosso tempo, e temperá-las com a nossa subjetividade, revela um mesmo homem de todos os tempos, esse ser ontológico, essa máquina geradora de dúvidas e indagações.
Se realmente torna-se possível fazer nossas palavras tão anteriores como as já citadas, elas passam por uma adaptação, onde “vaidade “ translitera-se “fantasia”. Fantasia sobre fantasia, tudo é fantasia.
Olhamos em volta, e tudo o que vemos é o espaço; melhor falando, o espaço modificado pelo homem. E, se tudo o que vemos, assimilamos e interpretamos passou pelo trabalho criativo da mente humana, não olhamos para nada mais além do reflexo das nossas próprias fantasias.
No que difere o homem do animal? O que faz daquele um ser pensante em oposição a este? É o fato de criar, de produzir, de tornar visível o que está oculto em sua mente; de trazer à luz, dar vida às suas elucubrações. O animal não as tem (as fantasias). E, se tem, como poderia prová-lo? A produção humana é a prova patente da existência desse mundo ocultado no seu íntimo e que foi trazido à tona.
Essa capacidade do sapiens de fazer viver uma pequena parcela dessa massa de sonhos que o inundam deu-lhe a potência para construir e evoluir toda a quimera que o cerca e que o satisfaz ao alimentar-lhe os olhos.
A fantasia está em tudo. Nós a criamos e, inconscientemente imergimos nela. Nos diversos níveis de interação entre as próprias fantasias, interligadas desde a mais simples à forma mais complexa. Numa simples indumentária, ou nas relações institucionalizadas, até a mais sofisticada máquina produtora de fantasias com fins de manipulação, vivemos nela e para ela. Servimo-la e, como seus servos, nos portamos agora como coisa criada, tal é a nossa subserviência ao inexorável domínio do irreal.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

As oportunidades passam!












Um comercial recentemente posto na TV me chamou atenção. Em uma propaganda de carro, aparece um desfile com diversas e excêntricas alas: a ala dos “já tive cabelo”, dos “já fui careca”, dos “já fui hippie”, “já tive barriga de tanquinho” e por aí vai.
Bem criativa e muito engraçada por sinal. E, embora seja uma simples proganda de carro, reflete uma verdade afinal. Tudo passa; tantos as coisas boas como as ruins, passam.
Assim como as decepções, o amor perdido, a desilusão amorosa, a perda passam, as alegrias, a felicidade momentânea, a saúde, o vigor da juventude também passam.
E isso me faz lembrar uma certa postagem antiga que acrescentei outro dia. Ela falava sobre os momentos inesquecíveis da infância. Mas, que pena, ela também passa.
E é assim a vida: o que outros passaram será novidade para os que virão.
Portanto sejamos sábios como o foi Salomão quando disse O que te vier a mão para fazer faze-o conforme as tuas forças...” e mais:
Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venhas os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: – Não tenho neles contentamento!
Abraço a todos!












segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Meditação: "As armaduras de Deus"













Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; Porque não temos que lutar contra carne e sangue,
mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos {lugares} elestiais.
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e,havendo feito tudo, ficar firmes.
Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça,e calçados os pés na preparação do evangelho da paz;
Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.
Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos.

Aos Efésios 6:11-18

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Políticos são ETs?


















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"Político é tudo corrupto!". Eis o jargão na ponta da língua de qualquer brasileiro em um bom português de rua.

Geralmente nas entrevistas feitas por reportagens relativas ao tema, o que vemos é a indignação de uma porção de entrevistados com a imoralidade que marca o passo do congresso nacional.

O cidadão mediano, em especial a classe média, tem se deparado com a torrente de acusações mútuas entre os parlamentares, que surgem em cada telejornal.

O sentimento de impotência frente à rede inextricável de "favorecimentos" e "apadrinhamentos" é realmente de deixar qualquer um consternado.

Mas aqui cabe uma reflexão. Por que será que tanto tempo se passou, tantas acusações parecidas ao longo dos anos e parece que nada muda?
Desde o "milagre econômico" com o Delfim, o plano cruzado do Sarney, o plano Collor, vemos a expectativa de milhões de brasileiros morrer na praia. Hoje, ao invés dos "planos" que frustram as perspectivas, temos os escândalos: anões do orçamento, caixa-dois, mensalão, atos secretos.

Tanto em tantos anos e porque nada muda? Aonde se esconde essa tal de corrupção, que ninguém consegue lhe arrancar as raízes e decepar-lhe o dorso de uma só vez? Seria o político um ET, ou uma entidade de outro planeta, dotada de poderes paranormais, inatingíveis pela maioria dos pobres brasileiros e mortais?

É claro que não! O "político", como é rotulado, é ninguém mais que eu e você. É um brasileiro a quem foi delegada uma função pública. Somos nós lá no congresso. E quando digo isto, não estou me referindo àquela conversa batida de democracia de papel, que diz que "ELES SÃO NOSSOS REPRESENTANTES!" Eles quem? Os políticos ETs? "Eles" somos nós, somos (digo novamente) eu e você! A única diferença: não estamos lá! Não estamos no "centro do poder".

Talvez meu discurso não tenha ficado claro até aqui. Mas vou tentar fazer-me entender.
Quando nós, cidadãos brasileiros, pais de família, pessoas "decentes" que jamais agiriam como "estes políticos" agem, nos deparamos com determinadas situações do cotidiano, temos (pelo menos a maioria) um comportamento muito parecido com o "deles".
Mas, a que situações eu me refiro? E de que comportamento eu estou falando?

Bem, quando eu estou numa "gigantesca" fila, seja lá do que for e, de repente, vejo aquele amigo em uma posição "vantajosa" na fila. Qual é o meu comportamento? Tenho outras contas pra pagar, penso. Tenho tanta coisa pra resolver hoje...! Será que não posso passar na frente desse pessoal que eu nem conheço? Que diferença faz? Eles, na minha posição, fariam a mesma coisa!

Outra situação: Consultório médico, minha ficha de atendimento é...sei lá, 32 (se SUS) ou então tem dez pessoas na minha frente. Mas...tem aquela garota da recepção! Ela é minha vizinha! Tou salvo! Dou aquele sorrisinho, disfarço. Ela diz: "espere ali um pouquinho", ou "venha comigo". Pronto, problema resolvido; passei na frente de um monte de gente!

Quer outra situação? Meu filho terminou o ensino médio, precisa de um emprego. Emprego hoje em dia...não precisa entrar em detalhe! Mas...eu tenho um "conhecido" naquele órgão do Estado; vou "mexer os pauzinhos" e pronto, "traga o currículo dele", diz o funcionário público. Resolvido, menino empregado.

Engraçado, como é mesmo o nome disso? Como é mesmo que chamamos essa forma "esperta" de "se virar", de "resolver as coisas"? Ora, nós chamamos de "jeitinho brasileiro". Não seria um nome bonito para "corrupção"?
Não, não, é diferente, diremos.
Eu discordo.

Quando nos revoltamos com a corrupção, com o apadrinhamento político, com o nepotismo, é bem verdade que não nos vemos como os demais que tais coisas cometem. Mas é meu entendimento que a corrupção perpassa o cidadão brasileiro de forma cultural, até mesmo inconsciente. Não justificável é claro.

Contudo, por que será que para os outros é corrupção e para mim é jeitinho brasileiro? Com a atitude do servidor público que não cumpre sua função como deveria eu me revolto; mas quando meu filho precisa dou um jeito, coloco ele lá.

Já posso ouvir o coro de vozes "eu não sou assim", "eu tenho princípios, sou diferente".

Diferente de quem? Do modo-de-ser do brasileiro? Só se for um estrangeiro.

Aliás, falando em estrangeiro, fiquei sabendo de uma estória que cabe aqui contá-la.

Um brasileiro que não sei o nome viajou para certo país da Europa e lá dividiu as dependências de uma república (se é que lá tem esse nome) com alguns estrangeiros; asiáticos, americanos e nativos europeus.

Esse nosso brasileiro, típico, descobriu certo telefone público que, por motivos de mau-funcionamento, fazia ligações internacionais sem efetuar a cobrança por nenhum meio.

Alegre com a descoberta quis partilhá-la, como todo bom brasileiro faria. E contou aos hóspedes estrangeiros da sua "façanha" sugerindo que os mesmos também usufruíssem.

Para sua surpresa, ao voltar de uma de suas saídas da casa onde estava hospedado com os demais, percebeu que os outros hóspedes haviam colocado cadeados em suas sacolas. Provavelmente pensaram: "se este tem coragem de roubar o Estado que é mais poderoso o que não fará com os nossos pertences?". Pois é; e nosso amigo, facilmente identificável com qualquer um de nós, não viu a hora de voltar para o Brasil, tal foi sua vergonha depois do ocorrido.

É exatamente sobre esse nível de consciência, ou melhor, de inconsciência do que é moralmente aceito ou proibido que estamos falando. E isto está tão arraigado na nossa cultura, brasileira, que não conseguimos em alguns momentos, distinguir o que é certo do que não é.

Um verdade incontestável é a que nós somos de certa forma, egoístas e individualistas; por não sabermos separar o que é de interesse público, coletivo, do que é de interesse pessoal que continuamos a meter os pés pelas mãos.

Ainda há pouco uma amiga me contou revoltada, que ao estacionar o carro, esperou que determinada pessoa que não tinha muita prática ao volante, estacionasse primeiro, pois havia duas vagas juntas e ficaria mais fácil para esta manobrar para estacionar; tal não foi a surpresa da primeira, ao perceber que, devido à sua "gentileza", um terceiro motorista aproveitou e se apoderou da segunda vaga, que seria desta minha amiga, que só não estacionou primeiro por tentar ser educada, mas não teve respeitado o fato de ter chegado primeiro na fila do estacionamento ainda que tivesse ligado o sinalizador indicando que iria manobrar para estacionar também.

Pois é amigo; a lei do mais esperto? Não, é a falta de educação mesmo; é a falta de princípios. O tal "jeitinho brasileiro" em ação, revelando esse nosso lado oportunista e inescrupuloso.

É muito fácil se revoltar quando vemos o político cometer nepotismo; e devemos nos revoltar mesmo! Deve ser exonerado do cargo, afastado, dizemos. Contudo o difícil é me revoltar quando essa pessoa é um parente nosso. Quando somos nós que estamos nos aproveitando de determinada situação.

Creio que o primeiro passo para a mudança de atitude é sairmos da hipocrisia do discurso e tirarmos a máscara. Sim a máscara que esconde nosso verdadeiro comportamento. Quando entendemos que nós brasileiros temos nos comportado assim, temos dado margem à corrupção; quando entendemos que o político não é um ET que caiu em nosso território e passou a nos comandar; quando nos vemos nestes políticos entenderemos que devemos sair da inércia do falatório que aponta o dedo e passarmos a observar quais são os princípios norteadores daqueles que herdam nossas práticas, ou seja, os nossos filhos.

Acredito em uma mudança de mentalidade ocorrida nas escolas e no seio das nossas famílias. Ao invés de nossos filhos ouvirem de nós durante os telejornais que "político é tudo corrupto", ouvirem sermões sobre seus comportamentos inadequados, aí sim estaremos dando um pontapé inicial para uma mudança e um salto para o futuro.

Difícil é ser o primeiro, porque o precursor sempre tem um preço a pagar. Mas se vale a pena deixar um Brasil melhor, um sistema melhor para os nossos filhos então, que paguemos esse preço.

A mudança é interior, individual. É uma mudança de mentalidade; uma verdadeira "conversão", onde "converter" significa mudar de direção, ir a uma direção diferente da que temos ido até o presente momento.

Talvez você amigo, não se encaixe neste meu discurso. Se você não aceita suborno, com certeza você não se encaixa. Isso significa que você não dá "propina" ao policial para se livrar da multa que só atinge quem está em desacordo com a lei; significa que você não dá dinheiro ao funcionário público para "agilizar" os trâmites do seu processo; que você não espera os cinco anos de prescrição e decadência de uma dívida para ficar livre dela; significa também que você não vai pedir ao patrão do novo emprego para dar uma "segurada" e não assinar sua carteira ainda, até que você receba a última parcela do seguro-desemprego.

Que você só vai querer um cargo público da forma meritocrática, ao invés de procurar aquele político (o tal ET) que indique uma vaga; e é claro amigo, que você, por não se encaixar nesse perfil, não compra peça de carros ou qualquer outra mercadoria sem nota fiscal, já que você se importa com a sua procedência. Nem aceita nenhum produto oriundo de pirataria, como softwares, áudio ou vídeo, pois você não usa a desculpa de um erro para justificar outro erro (aquela desculpa que diz que os originais são muito caros, ou que "se eu não o fizer o outro vem e faz", ou ainda, "eu não sou respeitado nos meus direitos, por que devo respeitar o direito dos outros?"). Não, você não se encaixa, pois ainda que fique no prejuízo em tudo, continua firme e fazendo a sua parte.

Pois é companheiro; quem não se encaixa em um destes contextos? Que atire a primeira pedra!
O mal, a corrupção, possuem raízes sim. E elas estão tão bem fixadas que removê-las requer tempo e cuidado para não acabar removendo também todo o resto que ainda é útil. Abraço.
Por: Josué Santos

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Otimistas ou pessimistas?



Vivemos em um mundo do início do século  XXI : crise financeira em 2008/2009, recrudescimento da violência em todos os níveis, superaquecimento do planeta, mudanças climáticas sem precedentes. Chega a ser lugar-comum falar sobre qualquer um desses temas.

Mas como é a cabeça de uma pessoa que vive em meio a este turbilhão de coisas, qual a sua perspectiva de futuro?
Vivemos uma era de relativismo sem precedentes: uma vez li que quando determinado tipo de crença impregna o meio científico, basta para que todas as áreas do saber humano sejam influenciadas. Toda a visão-de-mundo acaba por ser reordenada segundo o sistema de crenças da época em questão.

O relativismo nas ciências alcança o relativismo moral. Uma moral dita “universal” vem sendo substituída pela interpretação de acordo com determinada aparelhagem conceitual.
O engraçado em tudo isto é como o óbvio se torna invisível e o que é simples e útil torna-se fútil, enquanto que o fútil, o fugaz, torna-se imprescindível.

Há uma busca desenfreada pelo etéreo, passageiro. Uma fome insaciável pela novidade instantânea.
O discurso que diz que a única regra é “Não há regras”, revela o momento em que passa a sociedade humana. Já que criamos um sistema descartável; já que somos a sociedade do consumismo ao extremo e em grandes quantidades, se faz necessário que tudo seja frágil e conseqüentemente substituível pelo novo a todo o momento.

Isso explica também a fama instantânea, os quinze minutos de sucesso. Como também o culto do indivíduo, a falsa singularidade, onde me vejo único, quando na verdade quero ser igual aos meus pares, já que todos querem sempre a mesma coisa: ser diferentes.

Talvez exista um número sem-fim de visões da realidade em que estamos vivendo; e mesmo sabendo que nunca interpretaremos um determinado momento da história humana de forma completa enquanto agentes deste momento, de uma coisa já sabemos: vivemos um momento único.
Em toda a história da humanidade nunca se falou em uma “consciência global”, ou nunca antes temas como preservação/destruição do planeta foram debatidos em escala global. E pela primeira vez nós nos deparamos com uma situação única, que afeta a todos e diz respeito à nossa própria sobrevivência.

Um certo pensamento me incomoda, como uma farpa no meu dedo: Não posso negar que o nível de racionalidade da nossa espécie é atingido em cheio em nossa época; a busca de soluções para situações aonde a deusa-mãe da racionalidade moderna, a ciência, falhou, através de métodos que vão de encontro a essa forma cartesiana de pensar, corroboram meu incômodo.

Já temos precedentes históricos de até aonde pode ir a bestialidade do ser humano. Em nome de um objetivo maior já cometemos inúmeras atrocidades contra os que vão de encontro ao pensamento da maioria. Outrora em nome da fé, em nome de uma raça pura, em nome da paz. Penso no que poderá acontecer no futuro, quando um grupo mais forte tentar fazer valer seus interesses sobre uma maioria de miseráveis, desesperados, dominados ideologicamente; temo a utilização de ameaças de proporções globais e, em nome de uma tal proteção contra estas ameaças, o que não se perpetrará através das hordas ensandecidas, que já tiveram deteriorados os seus sensos crítico e de racionalidade, contra quem se puser no seu caminho, por não ter se deixado influenciar por discursos alienantes?

Pessimista, eu? Realista, talvez. O otimismo? Sim, o otimismo existe dentro de cada um de nós. Mas esse otimismo é negado na sua própria expressão se o enxergarmos na crença que existe de forma individual. Cada um, na sua forma de pensar e crer o mundo acredita, seja a partir da sua religião, ou de uma filosofia de vida, que o melhor pode vir.

Essa “policromia” de crenças no futuro nada mais é que fruto desta mesma época, que nos permite acreditar do nosso jeito; ou seja, cada um faz o seu mundo, então cada um crê também no seu próprio futuro, ou num futuro ao seu gosto.

Voltamos a andar em círculos. Se eu acredito que o futuro da humanidade está baseado em uma profecia maia, de cerca de 2000 anos a.C. que pode ser parecida com uma visão cíclica de mundo da cultura hindu; se eu interpreto o mundo a partir de um equilíbrio cósmico entre forças antagônicas e que o momento presente é o ápice desta luta cósmica. Se eu creio em um cataclismo mundial sem precedentes, o qual mudará toda a configuração do nosso planeta, enfim.

Todos buscamos a mesma coisa: aquela base sólida da “belle époque”, um mundo que tinha sentido, feito de objetivos alcançáveis, de um chão que poderia ser pisado. O mundo do século XX foi e ainda tem sido nesta nova era, um revolver do sistema criado pelo próprio homem moderno. Cabe saber se este revolver não seria agonizando, por estar próximo do seu suspiro final.

E o mais engraçado de tudo isto: pessimista, otimista, o que importa? Até aonde meu otimismo ou meu pessimismo influenciará no curso das coisas? No que eu acredito? Eis a minha resposta: “Porque ainda um poucochinho de tempo, {e} o que há de vir virá e não tardará.” Hebreus 10:37 ; paciência, sou um homem do meu tempo...
Por: Josué Santos