Eu penso o mundo
Sinto seu ritmo, vejo-o e leio
Interpreto os seus sulcos
E navego em seus veios
Aqui de dentro vejo lá fora
Aí dentro te vejo de fora
Vejo fundo, introspecto
Vejo meu eu no espelho agora
Vejo-me, mas não me livro
Nesse livro agora aberto
Interajo e analiso
Mas não me liberto
Quero dessecar-te
Usar o tempo, compreender-te
Afastar-me para entender-te
Criar mundos, miscelânea
Orgia de gostos, cores, odores
Sopa de pensamentos
Caldeirão de momentos
Vejo vozes, bebo luzes
Ouço cores, provo tudo
Sinto amores, percebo a fundo
Esse espelho que reflete o mundo
Sensações tão embaralhadas
Tão vivas destacadas
Lidar com cada uma e com todas
E a palito separá-las
Pescá-las a anzol
Escolher qual vou usar
E com uma pitada de grito
Tentar provar
Esse colosso de sabores
Essa vertigem de gostos
Mal provo parte de um
E nele já identifico outros
O amargo na boca
E o doce volta às papilas
O insosso e o adstringente
Trava e estala nos dentes
Degustar o mundo
Petiscar a esperança
Gostos tão fortes
Como sangue na garganta
Olores suaves
Pétalas macias
Lembranças inaladas
Como uma lufada de ar que arrepia
Oxigênio que inspira e contrasta
Com o gosto do veneno que arrasta
O ocre que entorpece, o verde que realça
Amarelopálido, rosa - bebê que desgasta
Sensações, realidade de percepções, tormentos
Construto de emoções, momentos
Dejávu de alucinações Sentimentos
Deliciosa vertigem
E o corpo a flutuar no espaço
Quiçá fora mais que um corpo
Por membros, pernas, pés e braços
As asas, plumas, um vôo eu alço
Mais que sonhos, os pensamentos
Fossem soltos e a matéria
A viajar por vários planos
Se desfizesse como coisa etérea
Josué Santos
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