sábado, 19 de dezembro de 2009

Espelho do mundo - Sinestesia
























Eu penso o mundo
Sinto seu ritmo, vejo-o e leio
Interpreto os seus sulcos
E navego em seus veios

Aqui de dentro vejo lá fora
Aí dentro te vejo de fora
Vejo fundo, introspecto
Vejo meu eu no espelho agora


Vejo-me, mas não me livro
Nesse livro agora aberto
Interajo e analiso
Mas não me liberto


Quero dessecar-te
Usar o tempo, compreender-te
Afastar-me para entender-te

Criar mundos, miscelânea
Orgia de gostos, cores, odores
Sopa de pensamentos
Caldeirão de momentos   

Vejo vozes, bebo luzes   
Ouço cores, provo tudo   
Sinto amores, percebo a fundo 
Esse espelho que reflete o mundo

Sensações tão embaralhadas 
Tão vivas destacadas   
Lidar com cada uma e com todas   
E a palito separá-las

Pescá-las a anzol   
Escolher qual vou usar   
E com uma pitada de grito   
Tentar provar

Esse colosso de sabores 
Essa vertigem de gostos 
Mal provo parte de um   
E nele já identifico outros

O amargo na boca   
E o doce volta às papilas   
O insosso e o adstringente   
Trava e estala nos dentes

Degustar o mundo   
Petiscar a esperança   
Gostos tão fortes   
Como sangue na garganta

Olores suaves   
Pétalas macias   
Lembranças inaladas   
Como uma lufada de ar que arrepia

Oxigênio que inspira e contrasta 
Com o gosto do veneno que arrasta   
O ocre que entorpece, o verde que realça   
Amarelopálido, rosa - bebê que desgasta

Sensações, realidade de percepções, tormentos   
Construto de emoções, momentos   
Dejávu de alucinações  Sentimentos

Deliciosa vertigem   
E o corpo a flutuar no espaço  
Quiçá fora mais que um corpo   
Por membros, pernas, pés e braços   
As asas, plumas, um vôo eu alço

Mais que sonhos, os pensamentos 
Fossem soltos e a matéria   
A viajar por vários planos 
Se desfizesse como coisa etérea

Josué Santos

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