terça-feira, 11 de agosto de 2009

Políticos são ETs?


















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"Político é tudo corrupto!". Eis o jargão na ponta da língua de qualquer brasileiro em um bom português de rua.

Geralmente nas entrevistas feitas por reportagens relativas ao tema, o que vemos é a indignação de uma porção de entrevistados com a imoralidade que marca o passo do congresso nacional.

O cidadão mediano, em especial a classe média, tem se deparado com a torrente de acusações mútuas entre os parlamentares, que surgem em cada telejornal.

O sentimento de impotência frente à rede inextricável de "favorecimentos" e "apadrinhamentos" é realmente de deixar qualquer um consternado.

Mas aqui cabe uma reflexão. Por que será que tanto tempo se passou, tantas acusações parecidas ao longo dos anos e parece que nada muda?
Desde o "milagre econômico" com o Delfim, o plano cruzado do Sarney, o plano Collor, vemos a expectativa de milhões de brasileiros morrer na praia. Hoje, ao invés dos "planos" que frustram as perspectivas, temos os escândalos: anões do orçamento, caixa-dois, mensalão, atos secretos.

Tanto em tantos anos e porque nada muda? Aonde se esconde essa tal de corrupção, que ninguém consegue lhe arrancar as raízes e decepar-lhe o dorso de uma só vez? Seria o político um ET, ou uma entidade de outro planeta, dotada de poderes paranormais, inatingíveis pela maioria dos pobres brasileiros e mortais?

É claro que não! O "político", como é rotulado, é ninguém mais que eu e você. É um brasileiro a quem foi delegada uma função pública. Somos nós lá no congresso. E quando digo isto, não estou me referindo àquela conversa batida de democracia de papel, que diz que "ELES SÃO NOSSOS REPRESENTANTES!" Eles quem? Os políticos ETs? "Eles" somos nós, somos (digo novamente) eu e você! A única diferença: não estamos lá! Não estamos no "centro do poder".

Talvez meu discurso não tenha ficado claro até aqui. Mas vou tentar fazer-me entender.
Quando nós, cidadãos brasileiros, pais de família, pessoas "decentes" que jamais agiriam como "estes políticos" agem, nos deparamos com determinadas situações do cotidiano, temos (pelo menos a maioria) um comportamento muito parecido com o "deles".
Mas, a que situações eu me refiro? E de que comportamento eu estou falando?

Bem, quando eu estou numa "gigantesca" fila, seja lá do que for e, de repente, vejo aquele amigo em uma posição "vantajosa" na fila. Qual é o meu comportamento? Tenho outras contas pra pagar, penso. Tenho tanta coisa pra resolver hoje...! Será que não posso passar na frente desse pessoal que eu nem conheço? Que diferença faz? Eles, na minha posição, fariam a mesma coisa!

Outra situação: Consultório médico, minha ficha de atendimento é...sei lá, 32 (se SUS) ou então tem dez pessoas na minha frente. Mas...tem aquela garota da recepção! Ela é minha vizinha! Tou salvo! Dou aquele sorrisinho, disfarço. Ela diz: "espere ali um pouquinho", ou "venha comigo". Pronto, problema resolvido; passei na frente de um monte de gente!

Quer outra situação? Meu filho terminou o ensino médio, precisa de um emprego. Emprego hoje em dia...não precisa entrar em detalhe! Mas...eu tenho um "conhecido" naquele órgão do Estado; vou "mexer os pauzinhos" e pronto, "traga o currículo dele", diz o funcionário público. Resolvido, menino empregado.

Engraçado, como é mesmo o nome disso? Como é mesmo que chamamos essa forma "esperta" de "se virar", de "resolver as coisas"? Ora, nós chamamos de "jeitinho brasileiro". Não seria um nome bonito para "corrupção"?
Não, não, é diferente, diremos.
Eu discordo.

Quando nos revoltamos com a corrupção, com o apadrinhamento político, com o nepotismo, é bem verdade que não nos vemos como os demais que tais coisas cometem. Mas é meu entendimento que a corrupção perpassa o cidadão brasileiro de forma cultural, até mesmo inconsciente. Não justificável é claro.

Contudo, por que será que para os outros é corrupção e para mim é jeitinho brasileiro? Com a atitude do servidor público que não cumpre sua função como deveria eu me revolto; mas quando meu filho precisa dou um jeito, coloco ele lá.

Já posso ouvir o coro de vozes "eu não sou assim", "eu tenho princípios, sou diferente".

Diferente de quem? Do modo-de-ser do brasileiro? Só se for um estrangeiro.

Aliás, falando em estrangeiro, fiquei sabendo de uma estória que cabe aqui contá-la.

Um brasileiro que não sei o nome viajou para certo país da Europa e lá dividiu as dependências de uma república (se é que lá tem esse nome) com alguns estrangeiros; asiáticos, americanos e nativos europeus.

Esse nosso brasileiro, típico, descobriu certo telefone público que, por motivos de mau-funcionamento, fazia ligações internacionais sem efetuar a cobrança por nenhum meio.

Alegre com a descoberta quis partilhá-la, como todo bom brasileiro faria. E contou aos hóspedes estrangeiros da sua "façanha" sugerindo que os mesmos também usufruíssem.

Para sua surpresa, ao voltar de uma de suas saídas da casa onde estava hospedado com os demais, percebeu que os outros hóspedes haviam colocado cadeados em suas sacolas. Provavelmente pensaram: "se este tem coragem de roubar o Estado que é mais poderoso o que não fará com os nossos pertences?". Pois é; e nosso amigo, facilmente identificável com qualquer um de nós, não viu a hora de voltar para o Brasil, tal foi sua vergonha depois do ocorrido.

É exatamente sobre esse nível de consciência, ou melhor, de inconsciência do que é moralmente aceito ou proibido que estamos falando. E isto está tão arraigado na nossa cultura, brasileira, que não conseguimos em alguns momentos, distinguir o que é certo do que não é.

Um verdade incontestável é a que nós somos de certa forma, egoístas e individualistas; por não sabermos separar o que é de interesse público, coletivo, do que é de interesse pessoal que continuamos a meter os pés pelas mãos.

Ainda há pouco uma amiga me contou revoltada, que ao estacionar o carro, esperou que determinada pessoa que não tinha muita prática ao volante, estacionasse primeiro, pois havia duas vagas juntas e ficaria mais fácil para esta manobrar para estacionar; tal não foi a surpresa da primeira, ao perceber que, devido à sua "gentileza", um terceiro motorista aproveitou e se apoderou da segunda vaga, que seria desta minha amiga, que só não estacionou primeiro por tentar ser educada, mas não teve respeitado o fato de ter chegado primeiro na fila do estacionamento ainda que tivesse ligado o sinalizador indicando que iria manobrar para estacionar também.

Pois é amigo; a lei do mais esperto? Não, é a falta de educação mesmo; é a falta de princípios. O tal "jeitinho brasileiro" em ação, revelando esse nosso lado oportunista e inescrupuloso.

É muito fácil se revoltar quando vemos o político cometer nepotismo; e devemos nos revoltar mesmo! Deve ser exonerado do cargo, afastado, dizemos. Contudo o difícil é me revoltar quando essa pessoa é um parente nosso. Quando somos nós que estamos nos aproveitando de determinada situação.

Creio que o primeiro passo para a mudança de atitude é sairmos da hipocrisia do discurso e tirarmos a máscara. Sim a máscara que esconde nosso verdadeiro comportamento. Quando entendemos que nós brasileiros temos nos comportado assim, temos dado margem à corrupção; quando entendemos que o político não é um ET que caiu em nosso território e passou a nos comandar; quando nos vemos nestes políticos entenderemos que devemos sair da inércia do falatório que aponta o dedo e passarmos a observar quais são os princípios norteadores daqueles que herdam nossas práticas, ou seja, os nossos filhos.

Acredito em uma mudança de mentalidade ocorrida nas escolas e no seio das nossas famílias. Ao invés de nossos filhos ouvirem de nós durante os telejornais que "político é tudo corrupto", ouvirem sermões sobre seus comportamentos inadequados, aí sim estaremos dando um pontapé inicial para uma mudança e um salto para o futuro.

Difícil é ser o primeiro, porque o precursor sempre tem um preço a pagar. Mas se vale a pena deixar um Brasil melhor, um sistema melhor para os nossos filhos então, que paguemos esse preço.

A mudança é interior, individual. É uma mudança de mentalidade; uma verdadeira "conversão", onde "converter" significa mudar de direção, ir a uma direção diferente da que temos ido até o presente momento.

Talvez você amigo, não se encaixe neste meu discurso. Se você não aceita suborno, com certeza você não se encaixa. Isso significa que você não dá "propina" ao policial para se livrar da multa que só atinge quem está em desacordo com a lei; significa que você não dá dinheiro ao funcionário público para "agilizar" os trâmites do seu processo; que você não espera os cinco anos de prescrição e decadência de uma dívida para ficar livre dela; significa também que você não vai pedir ao patrão do novo emprego para dar uma "segurada" e não assinar sua carteira ainda, até que você receba a última parcela do seguro-desemprego.

Que você só vai querer um cargo público da forma meritocrática, ao invés de procurar aquele político (o tal ET) que indique uma vaga; e é claro amigo, que você, por não se encaixar nesse perfil, não compra peça de carros ou qualquer outra mercadoria sem nota fiscal, já que você se importa com a sua procedência. Nem aceita nenhum produto oriundo de pirataria, como softwares, áudio ou vídeo, pois você não usa a desculpa de um erro para justificar outro erro (aquela desculpa que diz que os originais são muito caros, ou que "se eu não o fizer o outro vem e faz", ou ainda, "eu não sou respeitado nos meus direitos, por que devo respeitar o direito dos outros?"). Não, você não se encaixa, pois ainda que fique no prejuízo em tudo, continua firme e fazendo a sua parte.

Pois é companheiro; quem não se encaixa em um destes contextos? Que atire a primeira pedra!
O mal, a corrupção, possuem raízes sim. E elas estão tão bem fixadas que removê-las requer tempo e cuidado para não acabar removendo também todo o resto que ainda é útil. Abraço.
Por: Josué Santos

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