segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Essa realidade surreal...



















Vaidade de vaidade, já dizia o pregador.
Tudo é vaidade. Se há quase 3000 anos atrás o lendário escritor dos Provérbios e Eclesiastes, após inquirir tudo, experimentar e esquadrinhar toda a realidade que o cercava chegou à conclusão do que ele chamou de vaidades, o que diremos nós hoje, conscientes que somos da nossa navegação rumo ao infinito, presos a um astro mergulhado numa imensdão? Sim, tudo é vaidade, Salomão tinha razão. E não só isso, mas também aflição de espírito.
O simples fato de trazermos tais palavras numa longa viagem pelos séculos até o nosso tempo, e temperá-las com a nossa subjetividade, revela um mesmo homem de todos os tempos, esse ser ontológico, essa máquina geradora de dúvidas e indagações.
Se realmente torna-se possível fazer nossas palavras tão anteriores como as já citadas, elas passam por uma adaptação, onde “vaidade “ translitera-se “fantasia”. Fantasia sobre fantasia, tudo é fantasia.
Olhamos em volta, e tudo o que vemos é o espaço; melhor falando, o espaço modificado pelo homem. E, se tudo o que vemos, assimilamos e interpretamos passou pelo trabalho criativo da mente humana, não olhamos para nada mais além do reflexo das nossas próprias fantasias.
No que difere o homem do animal? O que faz daquele um ser pensante em oposição a este? É o fato de criar, de produzir, de tornar visível o que está oculto em sua mente; de trazer à luz, dar vida às suas elucubrações. O animal não as tem (as fantasias). E, se tem, como poderia prová-lo? A produção humana é a prova patente da existência desse mundo ocultado no seu íntimo e que foi trazido à tona.
Essa capacidade do sapiens de fazer viver uma pequena parcela dessa massa de sonhos que o inundam deu-lhe a potência para construir e evoluir toda a quimera que o cerca e que o satisfaz ao alimentar-lhe os olhos.
A fantasia está em tudo. Nós a criamos e, inconscientemente imergimos nela. Nos diversos níveis de interação entre as próprias fantasias, interligadas desde a mais simples à forma mais complexa. Numa simples indumentária, ou nas relações institucionalizadas, até a mais sofisticada máquina produtora de fantasias com fins de manipulação, vivemos nela e para ela. Servimo-la e, como seus servos, nos portamos agora como coisa criada, tal é a nossa subserviência ao inexorável domínio do irreal.

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